
O mar parecia calmo.
Contudo, os relatos das competições do dia anterior eram um aviso: correntes fortes, vento tramado, nadadores experientes a optarem por terminar a prova muito antes da linha de chegada, um atleta que morrera nas nossas águas.
Estávamos nervosas mas ainda assim com esperança: apesar do nevoeiro e da chuva, o mar parecia estar do nosso lado. A prova começou e levámos muito tempo a chegar à bóia preta que marcava o ponto de viragem para o destino final.

Para surpresa minha, sentia-me confiante, forte e rápida (nos primeiros momentos de uma prova, a minha mente costuma dizer-me o contrário). É certo que, por vezes, enquanto cavalgava as ondas para poder vislumbrar a bóia seguinte, sentia o medo a espreitar por breves segundos – estávamos mesmo muito longe da costa. Mas tinha uma boa amiga a nadar comigo (minha querida Zé) e estávamos rodeadas por barcos e jet skis de apoio pelo que ia avançando, uma braçada atrás da outra.
Estávamos a 1.5 km do fim quando nos aproximámos de uma bóia laranja e as ondas que, até aí, eram grandes mas regulares, de repente desnortearam, parecendo surgir de todas as direcções – o vento tinha aumentado. A sensação era a de receber bofetadas por todos os lados, enquanto pernas e pés se viam puxados para trás. Comecei a sentir frio e cansaço, a minha mente cedeu: já chega disto. Porém, a minha boa amiga continuava lá, eu continuaria com ela até ao fim.
Por desfortuna (ou não) um barco aproximou-se: tínhamos atingido o cut-off, a prova acabara para nós. Subimos para o barco desalentadas por ‘morrermos tão perto da praia’. No entanto, enquanto tremia de frio, sem muito controle, pensei que talvez tivesse sido o momento certo de parar.
O mesmo aconteceu a tantos outros nadadores, alguns a alguma distância da meta, outros tão perto que até dava pena que lhes tivessem tirado o sonho. Senti a tristeza de não ter acabado; mas a consciência de ter perdido 1346 calorias e a memória da experiência trouxeram, em si, muitas lições que espero nunca esquecer:
- o mar é imprevisível e muito (mas mesmo muito) mais forte que eu;
- nunca mais nado tão longe da costa;
- ter um@ amig@ a nadar comigo é algo precioso;
- devo respeitar o meu corpo acima de qualquer objectivo.
Será que voltarei a fazer uma prova de 5km no mar?
Agora dir-te-ei que não.
Mas se me tivesses dito quando me iniciei nas águas abertas que, um ano depois nadaria quase 7 km numa barragem, e que no ano seguinte experimentaria nadar 5km no mar, teria jurado a pés juntos que nem pensar
Alex Quadros


grande artigo 👏