Minha história como nadador de águas abertas

Olá! Eu sou o Carlos, um peruano de 55 anos, muito feliz por partilhar a minha história como nadador de águas abertas com a comunidade Swim4Fun.

Embora tenha aprendido a nadar aos 4 anos, nunca pratiquei natação como desporto até recentemente. Quando os meus pais perceberam que eu sabia nadar o suficiente para sobreviver caso caísse na água, as aulas de natação da minha infância chegaram ao fim.

A natação não fazia parte da minha vida, mas desportos como caminhadas, escalada, paraquedismo, futebol e corrida faziam. Adorava correr e comecei a praticá-la de forma séria quando era adolescente. Corri durante mais de 30 anos, completando várias maratonas e ultramaratonas. A corrida era o meu estilo de vida.

Quando fiz 51 anos, fui diagnosticado com uma doença neurológica que afetou o meu sistema nervoso e os músculos, da cintura até às pernas e pés. Pouco depois disso, os meus dias de corrida acabaram. Os médicos disseram-me que não havia tratamento médico eficaz para a minha condição, e um deles sugeriu-me que tentasse nadar no mar, pois a água salgada e a baixa temperatura podiam ajudar a manter o meu sistema nervoso e os músculos das pernas estimulados e ativados, o que poderia retardar a progressão da doença. Eu duvidei de seguir a recomendação do médico, porque tinha medo da ideia de nadar além das ondas, mas, finalmente, um dia, em 2020, quando as restrições da pandemia de COVID-19 foram aliviadas, decidi tentar nadar no mar… e foi terrível. Não conseguia nadar mais do que alguns metros sem sentir que ia ser arrastado ou que todos os animais do oceano iam atacar-me. Os meus medos e a minha ansiedade eram demasiado fortes para eu os controlar, mas foi nesse momento que descobri algo que foi a chave que abriu a porta da natação no mar para mim: a respiração.

Quando aprendi a usar a minha respiração de forma correta e eficiente, foi nesse momento que a minha natação no mar descolou. Meses depois, consegui nadar o meu primeiro quilómetro e senti-me o homem mais feliz do mundo. Percebi que as minhas pernas estavam a melhorar desde que comecei a nadar no mar e senti-me motivado a continuar a nadar cada vez mais. Seis meses depois, consegui nadar dois quilómetros e um amigo convenceu-me a participar na minha primeira competição de natação. Eu tinha 52 anos e participei numa prova de águas abertas de 4 quilómetros. Tinha dúvidas, pensando que 4 quilómetros poderiam ser demais, mas, para minha surpresa, nadei os 4 quilómetros sem parar, e não só isso: ganhei o primeiro lugar na minha categoria de forma inesperada. Descobri que não era assim tão mau a nadar, apesar de ter começado cerca de 40 anos tarde!

Para além de competir de vez em quando, estava mais interessado em verificar o que o contacto com o mar estava a fazer pela minha saúde em geral, e os benefícios foram incríveis. Alguns médicos tinham-me dito que, em cerca de um ano, eu iria começar a viver numa cadeira de rodas, pois as minhas pernas iam deteriorar-se rapidamente. No entanto, ali estava eu, um ano depois, vivo e a nadar no mar, aumentando a distância e a alcançar os 10 quilómetros várias vezes, sonhando em ir ainda mais longe. Não sou um nadador rápido, mas, sem dúvida, sou daqueles que consegue resistir muito tempo, e desfruto daquela sensação maravilhosa que as longas distâncias no mar proporcionam.

Sinto-me grato por tudo o que me aconteceu desde que comecei a nadar no mar há quatro anos no Peru e pela oportunidade que tenho agora aqui em Portugal com a Swim4Fun para continuar. Cada dia conta e é um presente, e se pudermos celebrar o presente da vida nadando no mar e encontrar outros que celebram a vida da mesma forma, teremos experiências inesquecíveis e faremos amizades igualmente inesquecíveis.

Obrigado!

Carlos Campos