Obrigada pai! Não me ensinaste a nadar mas fizeste-me descobrir os encantos do mar

Em busca de uma narrativa forte que sustentasse o motivo de ter procurado ajuda profissional e companheiros para esta aventura de natação em águas abertas, ganhei consciência que a minha relação com o mar tem muitos anos.

Começou na minha infância através das histórias que o meu pai me transmitiu. Pessoa que durante muito tempo teve o mar como sua “casa”, é um homem com um sentido profundo dos oceanos: a sua dança, as suas cores e o seu humor.

Iniciou jovem, nos anos de 1960, as viagens à pesca do bacalhau na remota ilha da Gronelândia, atravessou golfos e canais e desembarcou em terras tão longínquas como o Alaska ou a Rússia.

Enquanto criança, esse seu fascínio pelo mar levava-me a pensar que segredos continha para que a vontade do Deus Neptuno repetidas vezes nos separa-se.

Em verdade, nunca aprendi a nadar. Foi só agora por necessidade de colocar em prática objetivos futuros de provas de triatlo que decidi-me a nadar com técnica. Confesso-vos, tem sido uma aprendizagem apaixonante!

Em 2024 motivada por amigos que já praticavam a modalidade de triatlo, coloquei as sapatilhas mais vezes a repousar e envolvi-me no ciclismo e na natação. Comprei uma bicicleta (muito básica, mas com toda a pedalada necessária, basta ter pernas e em Julho de 2024 comecei a minha aventura em águas abertas com a Swim4Fun.

Inicialmente o medo do mar e da sua fauna – as encantadoras alforrecas ou a possibilidade de encontros inesperados com criaturas flutuantes, que nos aquecem a imaginação – era algo que pelo respeito que impunham, paralisava-me. A forma como a água revela e simultaneamente esconde ainda me perturba. Eternamente ondulante, pode nos abraçar ou pode nos intimidar.

E por falar de encontros, um dos bons encontros que tive foi com a Coach Bibiana. A enorme capacidade que possui de motivar, incentivar, ouvir e fazer-nos acreditar no nosso progresso constitui parte integrante do espírito da Swim4Fun. 

Desde então, já fiz duas fantásticas travessias (1,2km e 2km) e a sensação é difícil descrever em palavras. 

Lembro-me do meu corpo produzir tanta adrenalina que descobri em mim capacidades ocultas.

Diria que é uma experiência de auto-descoberta.

Na minha primeira travessia, entrámos pela praia da Torre e o objetivo era terminar na praia de Carcavelos. 

Nesse dia, o mar apresentava-se tranquilo e nadávamos a favor da corrente. Quando começámos a aproximarmo-nos do Forte de São Julião da Barra, aí começou o desafio. As ondas, repentinamente, cresceram. Houve momentos cujas dificuldades em avistar os companheiros de viagem ou a focar-me na respiração eram grandes: as ondas ocultavam a visão periférica e a respiração bilateral é impraticável. 

É precisamente nestes instantes que é fundamental confiarmos em nós, no nosso treinador e nos colegas mais experientes. E lá dobrámos o dito forte (que por vezes fazia lembrar a dobragem das tormentas) em direção a Carcavelos.

Na segunda experiência rumámos à procura de uma distância maior (2 km): entrada pela Praia Velha (Paço D´Arcos) até à Praia das Fontainhas.

Este era um passo significante. Estávamos a meio de Novembro e o mar já dava ares da sua graça. Pedia-se a devida coragem para enfrentar a temperatura da água. 

O percurso tem alguma beleza, nomeadamente para alguém como eu que estava familiarizada a percorrê-lo com outra perspectiva, na corrida do paredão. Sim, porque também é importante ir apreciando as paisagens.

Foi um misto de emoção e imprevisto: não conseguimos terminar, conforme estava previsto, na praia das Fontainhas, devido à ondulação que nos atraia para as rochas e a opção foi voltar para trás para alcançarmos a praia dos Pescadores.

No regresso, apanhámos vento e corrente contra. Literalmente, sentimos que estamos a dar uma braçada para a frente e duas para trás. Após longos minutos, chegámos ao nosso destino. Contudo, guardo boas memórias desta travessia. É a tal sensação que todos falamos de superação, de conseguirmos ultrapassar aquilo que pensamos ser os nossos limites.

Obrigada ao meu pai e obrigada à Bibiana por teimosamente me encorajar.

Carla Aranha

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