Sou o André Marquet, e esta é a minha história com a natação.
Tinha 19 anos quando corriam os Jogos Olímpicos de 2000 em Sydney, na Austrália. Era verão na Europa, e eu estava de férias. Admito que não sou fã de grandes eventos esportivos, exceto pelos resumos na TV ou pelo zapping ocasional.
Naquela época, de TV linear assisti a uma reportagem sobre um jovem da Guiné Equatorial quase se afogava na prova de 100m livres por falta de treino adequado. O jornalista explicou que era parte de um programa do Comité Olímpico para incluir atletas de países tradicionalmente excluídos nos jogos olímpicos.
O atleta Eric Moussambani, com preparação limitada e sem acesso às mesmas condições que seus colegas, nadou numa piscina de 50 metros e completou a prova em 1 minuto e 52 segundos. Ele tinha aprendido a nadar apenas alguns meses antes das Olimpíadas e praticava numa pequena piscina de hotel.
Vídeo da prova 100L Eric Moussambani
Aquele foi o meu momento de reflexão sobre a natação. Não foi tanto o Ian Thorpe, o “torpedo australiano”, com seu famoso traje “tubarão” batendo recordes nas Olimpíadas que me inspirou, embora eu também ficasse maravilhado. Foi um jovem africano que me fez sair do sofá e pensar por que eu, um estudante universitário com uma piscina de 50 metros ao lado da faculdade, não aproveitava para melhorar minha natação.
Vídeo da prova 400L de Ian Thorpe:
Seria fácil rir-me do Eric por atirar-se à piscina sem saber nadar bem, mas ele teve coragem, enfrentando a falta de infraestrutura e treino adequado. Eu, com acesso a uma piscina olímpica e treinadores na universidade, não aproveitava as condições que me eram tão favoráveis.
Em setembro, com a volta às aulas, fui me inscrever nas piscinas da cidade universitária para melhorar minha natação e enfrentar uma piscina de 50 metros. Comecei nos níveis iniciais e, motivado, alcancei o nível mais avançado sem faltar a nenhuma aula.
Depois que terminei o curso, mudei-me de Lisboa e perdi o contato com a natação regular. Na Tunísia, para onde fui trabalhar, frequentei uma piscina pública, mas fui repreendido por tomar banho nu no vestiário masculino! Essa experiência afastou-me da piscina durante minha estadia. Contarei mais sobre essa história caricata, de choque cultural, quem sabe numa futura entrada neste blog.
Comecei a nadar em águas abertas no Triatlo de Oeiras em 2002, e fui participando esporadicamente de algumas provas até que, no verão de 2020, após o primeiro confinamento, participei num evento de águas abertas em Sesimbra. Desde então, juntei-me a um grupo que nada aos domingos de manhã, com o mesmo empenho com que ia às aulas de natação os tempos de faculdade.

Pic 1. Antes de começar a prova com a minha amiga Ana, e com o aquele riso nervosinho, de quem não sabe no que se está a meter.
No ano passado, decidi participar numa prova maior, o SwimGP de 5K, que começa na praia de São João do Estoril e termina na praia dos Pescadores em Cascais. No entanto, a prova foi afetada por um denso nevoeiro que complicou e muito a experiência, levando ao seu cancelamento, conforme relatado no artigo de Joana Paz, “Natação, nevoeiro, resgate“.

Pic 2. Depois de ter sido resgatado por um dos barcos de apoio, a meio da prova – sem sorrisos, mas agradecido por estarmos todos bem, e ninguém se ter perdido.
Durante uma sessão de kickboxing, rompi o ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo, o que me levou a uma cirurgia e dois anos de recuperação com fisioterapia. Deixei os desportos de combate e voltei à natação para fortalecer os músculos. Este mês, recebi meu número de membro da Federação Portuguesa de Natação, inscrito pelo Clube Swim4Fun, onde treino no Complexo do Jamor.
Todos nós temos nosso próprio caminho, com momentos que nos inspiram a agir. No entanto, no Swim4Fun, encontrei algo essencial que faltava em minha trajetória: pessoas motivadas a se ajudarem mutuamente a alcançar seus objetivos. Dizia o grande mestre Vinícius de Morais “Eu nunca ando só, eu só ando em boa companhia.” E eu acrescentaria que eu nunca nado só, eu só nado em boa companhia.