
A natação em águas abertas não se limita a ser mais um desporto. Quem decide enfrentar o desafio de nadar num mar aberto não está apenas a testar o corpo, mas também a expandir a mente. E, tal como as águas que se adaptam às correntes e aos ventos, o cérebro humano também se remodela perante novos desafios.
Ao ler o querido professor Dr. António Damásio e Dr. Norman Doidge entendemos que a neuroplasticidade é a incrível capacidade do cérebro de se reorganizar e formar novas conexões, e mostra-nos que o crescimento acontece quando saímos da zona de conforto. Nadar em águas abertas exige mais do que técnica ou resistência física; obriga-nos a aprender a ler correntes, a lidar com o imprevisível e a superar medos. Cada braçada é uma oportunidade para o cérebro criar novos caminhos, fortalecer a resiliência e adaptar-se a um ambiente em constante mudança.

Quem entra nestas águas sabe que não há duas provas iguais, quiçá não há nem dois treinos iguais. O mar pode estar calmo num dia e revolto noutro. Podes iniciar o treino com o mar em uma condição e terminar em condições diferentes. E é precisamente essa imprevisibilidade que nos obriga a abrir a mente e a aceitar que o controlo absoluto é uma ilusão e que a verdadeira força está na capacidade de se adaptar.
Por isso, a natação em águas abertas não é só para corpos treinados, mas para mentes dispostas a evoluir. Cada onda que enfrentamos, cada limite que ultrapassamos, reforça não apenas os músculos, mas também a nossa capacidade de aprender, de crescer e de nos reinventarmos.
No fim, mais do que vencer distâncias, vencemos a nós mesmos.
Thiago Bessa Pontes

