Minha primeira travessia nocturna

Quando surgiu a 2ª Travessia Nocturna da Swim4Fun, inscrevi-me sem hesitar, sem pensar demasiado, sabendo que nadar no escuro mete muito medo. Mas fui — pela primeira vez — com muita vontade!

Éramos 22 nadadores, mais a organização e as famílias que assistiram e nos apoiaram neste final de dia. Antes de entrarmos no mar, a Anna guiou-nos numa caminhada consciente, trazendo luz aos nossos sentidos e à nossa respiração; fizemos um breve aquecimento com ioga e algumas bonitas saudações à lua.

Finalmente fomos para o mar. À primeira vista, parecia que ia ser um desafio apenas físico, mas acabou por se revelar profundamente interno. Assim que entrei na água e fechei os olhos por um instante para me concentrar, tudo ficou escuro — não só o mar à minha volta, mas também a minha mente. Um escuro espesso, quase palpável. Procurava uma imagem que me orientasse, um ponto de referência, mas o que surgia era a escuridão, pensamentos soltos, medos antigos, ecos que vinham à superfície ao ritmo da respiração. Era como estar ali, literalmente a nadar, só e apenas, frente a frente com a minha monkey mind. E não havia para onde fugir. No meio daquele mar, não havia direção clara, nem luz, nem fundo visível. Havia apenas a noite, sem referência, e algumas luzes que cintilavam quando as ondas permitiam.

Fui no grupo da frente. Pareciam mover-se com tanta confiança, iluminados pelas suas lanternas, como se soubessem exatamente para onde ir. Acompanhei-os durante algum tempo, puxando pelo meu ritmo, tentando não ficar para trás. Mas o mar — e o meu corpo — tinham outro tempo. Fui ficando mais para trás: ainda à frente do outro grupo, mas sozinha, a ver as luzes a afastarem-se. E chegou um momento em que precisei mesmo de parar para esperar alguém que vinha atrás; não só para ter companhia, mas para reencontrar o meu próprio centro naquele escuro.

Percebi então que estava a nadar contra mim mesma, com pressa. Lutar contra o escuro, contra a ansiedade, contra o ritmo dos outros, contra o silêncio do mar — é exaustivo. Quando finalmente chegou o barco de apoio e a equipa pediu que mudássemos de direção, algo em mim se alinhou. Respondi interiormente, com uma serenidade inesperada: “Eu vou no meu ritmo.” Mesmo que isso significasse ficar mais tempo no escuro, sozinha. E foi isso que fiz.

A partir daí, deixei-me abraçar pelas braçadas, pelo som da água, pela noite. Soltei as tensões dos ombros, aliviei o peito e comecei a reparar no céu: mesmo escuro, havia cores nas nuvens, reflexos nas luzes de Cascais, pequenas pistas de beleza que só aparecem quando deixamos de lutar. Cada movimento se tornou mais suave, mais meu. E, curiosamente, senti até que o mar me empurrava, como se finalmente deixássemos de disputar forças e começássemos a nadar juntas — eu e a água.

E então percebi:
Quando me libertei das amarras internas — o medo, o controlo, a comparação — o mar deixou de ser obstáculo e passou a ser caminho.

Foi mais do que nadar à noite.
Foi aprender a mover-me na escuridão — sem pressa, sem resistência, ao meu próprio ritmo.

É por estas experiências que eu vivo.
Obrigada, Swim4Fun!

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