
Cresci no mar, desde cedo que a ligação se tornou evidente e transformadora.
Talvez não tenha começado da melhor forma, com três, quatro anos, fui engolido por uma onda á beira mar que pregou um valente susto aos meus pais — que estavam descansados nas suas toalhas. Sei, pelas suas palavras, que fiquei alguns segundos embrulhado naquela espuma de agitação. Felizmente, o meu pai conseguiu agarrar-me, literalmente, pelo cabelo e tirar-me da água.
Poderia ter sido a deixa para nunca mais entrar no mar, mas parece que sofri o efeito contrário, talvez pelos pirolitos salgados que bebi, tenha percebido que queria levar o mar para o resto da minha vida.
Mais tarde, depois de começar a escola aos cinco anos, entrei na natação em piscina, e comecei cedo em competição. Ao mesmo tempo, pratiquei futebol e também karaté, fins de semana a saltar de provas em provas, sair da água a correr para ter jogo de futebol em minutos.
Com o crescimento os tempos mudaram, a faculdade apertou e tive de largar praticamente tudo o que envolvia desporto. Entrei em artes/design nas caldas da rainha, o que me ocupou grande parte do tempo, entre estudos e a rebeldia que a cidade e ambiente escolar ofereciam.
Anos mais tarde, de regresso a Lisboa, surgiu o desejo de voltar a entrar na água. Desta vez no mar. Conheci pela primeira vez o termo “águas abertas”.
A primeira experiência que tive, e em grupo, foi de sentido de pertença, também saudade, de formigueiro na barriga, de ânsia por mais. Sentir a maresia logo pela manhã, o frio da água de inverno, a luz do nascer do sol, a partilha de braçadas com outras pessoas, o sorriso de felicidade estampado na cara de todos, fez-me perceber que quero manter este estilo e filosofia de vida, porque verdadeiramente os pequenas prazeres como estes, tornam a vida muito maior e mais interessante de ser vivida.

Hoje, recente pai de dois, procuro passar-lhes esse testemunho, de estar em contacto com o mar, a natureza selvagem, ou mesmo em piscina, ter a calma e a ousadia de atravessar obstáculos que surgirão inevitavelmente no desporto assim como na vida.
A natação é completa, torna-nos melhores e mais serenos, talvez porque a água nos acompanha desde que somos um grão de areia na barriga da nossa mãe.
Continuemos juntos a nadar pelo mar adentro.
Fábio Chainho Costa

