Fazer as pazes com o Atlântico

Quando nos mudámos de Itália para Portugal, em 2019, o nosso primeiro desafio — como tantos outros expatriados antes de nós — foi encontrar uma casa. Ainda me lembro do agente imobiliário a perguntar-me qual era a minha “casa de sonho” e a acrescentar, com toda a confiança: “…e claro que vai querer uma piscina para as meninas, certo?”
“Porquê?”, pensei eu. “Há praia e há o oceano — quem precisa de piscina?”

Assim, na primeira sexta-feira depois das aulas, acabadas de regressar de duas semanas de férias na Sicília, preparámos o nosso equipamento habitual de praia — chapéu-de-sol, toalhas e máscaras de mergulho — e fomos até à Praia de São Pedro do Estoril.
A experiência não foi exatamente como eu tinha imaginado. As ondas derrubaram a minha filha mais nova quando ela tentava sair da água; o oceano estava gelado; e, através da máscara, não se via nada além de um azul turvo. Depois o vento apanhou o nosso chapéu-de-sol e fê-lo rolar pela praia — corri atrás dele, agarrei-o e, honestamente, acho que nunca mais o abri desde então.

Nesse dia percebi rapidamente porque é que toda a gente insistia em ter uma piscina em casa. A praia não era propriamente um parque de diversões, e as águas do Atlântico estavam longe de ser convidativas. Era setembro de 2019, e depois desse primeiro encontro atribulado, não voltei a molhar um dedo no oceano durante quase cinco anos.

Sempre pratiquei ioga, mas depois de uma década começou a parecer-me um pouco… previsível. Continuava a gostar, mas já não sentia progresso, e comecei a desejar algo mais desafiador.
Foi então que, num encontro de empreendedoras, conheci a Bibiana. Ela estava a falar da sua nova escola de natação quando, de repente, me caiu a ficha — eu costumava ser nadadora!

Em Itália, quando tinha treze anos, fui diagnosticada com escoliose, e o meu médico receitou-me natação como o remédio perfeito — um desporto sem gravidade, que trabalha todos os músculos e mantém tudo bem alinhado. Entrei para uma equipa de natação e treinava cinco vezes por semana, durante quatro anos, na piscina municipal mesmo em frente à minha casa. Só parei quando fui para a universidade.

Nadar sempre foi divertido: o som da minha respiração a borbulhar debaixo de água, a sensação de empurrar a água com o corpo, a leveza de flutuar à superfície. Durante anos evitei o Atlântico como se fosse gelo líquido, e agora tinha a oportunidade de finalmente fazer as pazes com ele. Nadar naquelas águas era possível — e eu não consegui resistir a descobrir se ainda era capaz.

A minha primeira natação na Praia da Duquesa não faltou a surpresas. O coração começou a bater acelerado quase de imediato, mesmo sem me mover muito, e o fato de neoprene apertava tanto que mal conseguia respirar. Consegui dar algumas braçadas de crawl, mas olhar para as profundezas não era propriamente reconfortante. Começámos a nadar até à famosa bóia amarela, lá ao fundo, e depois de volta. Não seria um pouco longe demais? E depois, no fim, tinha mesmo de me despir no meio do parque de estacionamento?

Claro que não desisti — e, pouco a pouco, a natação em águas abertas começou a conquistar-me de maneiras que nunca esperaria. Lembro-me de um dia, a ofegar, olhar para cima e ver gaivotas a planar sobre mim, depois mergulhar novamente a cabeça e encontrar peixes a deslizar lá em baixo. E algures entre os dois, estava eu.

Comecei a adorar o pequeno ritual do duche depois do treino — a forma como a água quente me sabia bem na pele, e como os raios de sol me aqueciam depois de nadar. Ri-me quando um turista italiano me parou:
“Ma davvero Lei nuota in queste acque gelide?”
“Sì! È bellissimo. Dovrebbe provare!”

Nadar em mar aberto é uma experiência incrivelmente dinâmica — não há dois dias iguais. A luz do céu muda do início ao fim da aula: às vezes mais nublado, outras vezes com o sol a espreitar — e, de vez em quando, até com chuva. A corrente muda conforme se nada numa direção ou na outra. Até a cor (e por vezes o cheiro) da água pode variar muito — desde cristalina até turva e misteriosa. E nem vamos falar das ondas — já perdi uns óculos de natação por causa delas!

Com o tempo, aprendi a controlar a respiração, aperfeiçoei o estilo e comecei as minhas primeiras pequenas aventuras: atravessar o Forte de São Julião da Barra, uma natação noturna sob a lua cheia e, este mês, a minha primeira competição em Sesimbra.

Neste momento, nado duas vezes por semana. Gosto de variar — um dia em Cascais e outro na Praia da Torre, em Oeiras. Também estou a pensar acrescentar uma sessão na piscina. No meu aniversário, ofereceram-me um relógio que regista as minhas braçadas — e isso levou à minha mais recente vaidade: adoro ver os percursos das minhas natação mapeados, mesmo que ainda tenha alguma dificuldade em acompanhar o meu progresso em ritmo e equilíbrio dos treinos.

Com o inverno a aproximar-se, estou ansiosa por nadar distâncias mais longas e, claro, por me juntar à comunidade em novas competições — explorando novos trechos do mar ao longo da costa portuguesa.

Anna Rinoldi

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