
O SwimGP 2025 foi a minha primeira competição de natação em águas abertas, marcando o fim da minha também primeira época desportiva neste desporto. Recordo-me do treino, que me parece já tão longínquo, no início da Primavera, em que a Bibiana nos incentivou a participar em competições, em particular no SwimGP. Com um grande sorriso, respondi-lhe em jeito de pergunta: “Mas não é swim for fun?”, ao que prontamente me respondeu, com um grande sorriso também: “Só para alguns!”. Quando as inscrições abriram, resisti a inscrever-me. As colegas da turma partilhavam ideas de participação em provas de Norte a Sul do país, mas eu, qual aldeia de irredutíveis Gauleses, resistia e sempre ao invasor. No entanto, mentalmente assumi que teria uma competição em Julho e impus a mim própria uma rotina de treinos em piscina, complementar da natação na praia da Duquesa, em preparação para essa competição. Assim, todos os dias, antes da aula de natação, nadava meia hora com foco ora na técnica, ora na velocidade, ora na resistência. Aproximava-se o primeiro prazo de inscrição e eu não me achava preparada. Até que, certo dia, fui confrontada pela verbalização da realidade por uma colega de treino: “Tu, que te levantas todos os dias às 6:30am para nadares, não estás preparada para uma prova de 1km?! Tu, que já foste a competições a apoiar colegas de treino, que conheces e gostas do ambiente, não queres fazer parte?! Arrepender-te-ás depois!”. Nesse dia inscrevi-me na prova de 1km do SwimGP.
Apesar da distância ser fisicamente alcançável, a prova tinha os seus desafios mentais. A prova decorreria na baía de Cascais, que é naturalmente abrigada, e consistiria num percurso fechado de seis bóias. Mas a distância à costa intimidava, em particular ao chegar à quarta bóia do percurso. Além disso, utilizar a bóia de sinalização individual não seria permitido. Havia também desafios mais mundanos, como o fato decadente resultante dum ano de prática, e o caos de braços e pernas na partida e nos contornos às bóias. Sem outra opção, mente e corpo abraçaram-se, dispostos a vencerem juntos estes desafios. Todos os dias pensava na quarta bóia, em cada treino semanal tentava inferir o percurso e estimar a distância. Na véspera da prova, experimentei um fato novo, de aspecto baço e cheiro intenso, e fiz um derradeiro esforço de reconhecimento do percurso.
Eis então que chega o dia da prova. Eu estava nervosa mas ansiosa por começar. Duas horas antes, fazia alongamentos com o elástico; uma hora antes vestia o fato; meia hora antes, nadava até ao barco mais próximo. Os nadadores foram chamados não à linha mas antes à área de partida. Tirámos as últimas fotografias de equipa e desatámos a correr para o mar. Comecei num ritmo dinâmico mas confortável. Recordei-me então das palavras da Bibiana sobre o contorno às bóias: “Afasta-te das bóias e dos outros nadadores! Não te preocupes com a estratégia, preocupa-te antes em fazer a prova!”. Curiosamente, ao afastar-me dos nadadores, aproximei-me da primeira boia e contornei-a incólume. A segunda boia entrou então no meu horizonte, mas pouco mais conseguia ver. Os óculos pareciam forrados de Halibut, por isso não tive uma real noção da distância à costa. Na terceira bóia virei costas para a costa e segui para a quarta bóia, que tantas vezes mentalmente tinha visualizado. Havia onditas mas eram tranquilas. Vários semi-rígidos acompanhavam os nadadores, ajudando a orientar e a reconhecer as boias camufladas pelos barcos. Pensava: “Não sei onde estou e estou sem boia”, mas confiava que estava a ser observada e protegida, por isso foquei-me nas bóias. Ao chegar à quinta bóia, ainda a um ritmo confortável, acelerei um pouco. Acabei a prova com um pulso tranquilo e num tempo razoável. Agarrei na garrafa previamente preparada com proteína e uns pozinhos de café, e juntei-me à Bibiana que gritava por cada um dos seus nadadores. O ambiente estava vibrante e acolhedor, como se duma reunião de família se tratasse. Entretanto lancei o meu próximo desafio. Dizem os senseis que é somente quando atinges o cinto negro que começas o Karaté. A primeira prova de águas abertas é como o cinto negro: comecei agora a nadar.
Sofia Carvalho


Obrigada pela partilha, Sofia! 😍 wow, tantos pormenores… qual é o próximo objetivo? Bj, Steffi