Inspirado no poema de Fernando Pessoa

Um dia pensei: vou a Glasgow, à COP 26 (a COP sobre Alterações Climáticas em novembro 2021) de bicicleta. Fui comprar uma bicicleta a um senhor que as alugava a turistas e foi à falência durante a pandemia. Treinei um bocadinho durante o Verão e em outubro meti-me sozinha à estrada. Mas a história não é esta. Quando cheguei a Portsmouth fiquei em casa de uma senhora que alugava quartos e me disse: Amanhã de manhã não se assuste se vir a casa vazia, vou nadar ao mar, faço isso todas as terças-feiras com umas amigas. Eu retorqui, que inveja, se tivesse fato-de-banho iria consigo. Ao que ela respondeu, não seja por isso, eu empresto-lhe um meu. Foi o meu batismo de ir à água no inverno, pseudo-nadar (só lá ficamos dentro uns 5 minutos) e sentir aquela água fria energizante, que dá uma certa sensação de invencibilidade. Fiquei contaminada e inspirada para os chuvosos dias até à Escócia …
Quando voltei para Portugal, o país à beira mar plantado, quis continuar essa aventura de ir ao mar todo o ano, nadar um pouco. Por coincidência a Chiara, amiga de longa data, disse-me que tinha começado a nadar também. Foi o incentivo certo, na altura certa. Comprei um fato de manga e pernas curtas, que gosto do frio, uma touca, uns óculos e a boia. Durante todo esse inverno fomos a Caxias uma a duas vezes por semana. Um dia fizemos uma competição, nadar do Tamariz até à praia de pescadores em Cascais, naquelas em que participavam também aqueles atletas que puxam canoas com pessoas que não podem nadar, e mesmo assim fiquei em último lugar. Mas tive direito a que o meu nome fosse dito nos autofalantes …, e agora por último .. Sofia …
A vida levou-me para fora de Portugal durante dois anos e agora em 2024 regressei. A Chiara, agora já a ainda mais anos-luz das minhas braçadinhas, não me deixa desistir e lá comecei eu a nadar no Jamor e na praia de vez em quando. Agora tenho também umas aulas no Jamor e vou melhorando devagarinho, o suficiente para mim que tenho apenas dois objetivos: ter um gozo imenso (adoro o mar) e não ter lesões. Se nadar melhor, um pouco mais depressa e aguentar mais, melhor.
Um dia fui a pé de Lisboa até ao Porto, fui a Glasgow de bicicleta e este ano, a comemorar os meus 60 anos fiz os 738 km da N2 de bicicleta. Sempre com poucos treinos, e sem sequer ser especialmente fit. Acho sempre que é só gostar, querer e não me importar de fazer as coisas devagar. Tartaruguinha…
Nadar é a mesma coisa, gosto e quero, por isso é possível que me encontrem por aí, no nosso mar salgado. Se virem alguém a nadar devagarinho, já sabem, devo ser eu…
Sofia Guedes

ein Lesegenuss, dieser Text! 😍