

Sou a Cátia e toda a minha vida me fez confusão ter água na cara, até no banho salpicos na cara me incomodam, quando era pequena na praia se alguma água me entrava nos olhos eu ia logo para a toalha para os limpar!
E com esta base, já de sucesso, decidi fazer triatlo, e assim percebi que apesar de não gostar de água na cara teria mesmo de pôr a cara na água!
Em fevereiro de 2024 comecei a tentar nadar e felizmente em julho encontrei a Swim4Fun, e hoje partilho convosco a minha maior aventura em águas abertas.
(vai haver um segundo personagem, o meu marido João 😊)
No caminho para a lagoa o tempo estava cinzento, mas abafado, o João comentou que estava mesmo tempo de tempestade, eu concordei e no momento seguinte essa pequena afirmação simplesmente abandonou as nossas cabeças.
Chegados lá continuava aquele tempo de quietude, o mundo cinza, parado e abafado, comentámos que não estava vento e que a água parecia estar calma.
Vestimos os nossos fatos calmamente, aquecemos e entrámos na água, um pouco mais fria que o habitual e começámos a nadar.
Seguimos a rota já habitual e chegámos ao primeiro ponto de viragem com facilidade, ia ser um bom treino!
Mas uma curva pode sempre trazer surpresas e na água não é diferente… é incrível como o simples facto de virar em 90º a trajetória muda tudo!
O que nós não nos tínhamos apercebido durante a primeira parte é que o vento se tinha levantado, a corrente tinha começado a puxar (pensámos posteriormente por a maré ter começado a encher), e as ondas tinham encontrado o ambiente perfeito para mostrar toda a sua graça.
Mal virei deparei-me com as ondas do nosso lado esquerdo, da altura da nossa cabeça e sem paragens, respirar para aquele lado estava agora fora de questão!
Continuei mantendo a respiração unilateral, que ainda assim por vezes era dificultada por uma onda mais travessa que me passava por cima da cabeça enquanto tentava respirar.
A minha boia parecia querer demonstrar o seu apoio colocando-se ao meu lado, o que me obrigava a parar a braçada a meio para não prender o braço nela. Por vezes esta companhia que nunca me larga acabou até por ir em até cima de mim encostada na minha cabeça até que outra onda a mandasse de volta para o meu lado.
Estava focada em chegar ao outro lado, acreditava ainda que o regresso, após a próxima curva seria mais fácil e com menos ondulação.
Finalmente altura da próxima curva, acabavam as ondas a bater-te de lado voltava aquele bom ritmo com respiração bilateral!
Mal virei dei com o João parado, os óculos estavam a embaciar muito, dizia que não via para onde ia e também se queixava, tal com eu, da chata da boia!
Depois de uma troca de palavras, muito rabugenta (do lado dele) voltámos a nadar!
Imediatamente percebi que regressar ao ponto de partida não ia ser a facilidade que esperava, cada vez que rodava a cabeça para respirar acontecia uma de duas coisas, ou a onda estava a ir contra mim naquele momento, rebentava em cheio na minha cabeça e me enchia a boca de água ou apanhava uns instante de calmia (por estar em cima da onda ou na ausência dela), conseguia respirar bem mas depois sentia uma verdadeira estalada na bochecha e orelha quando a onda subia contra mim ou eu caia contra ela, consoante o caso.
Engasguei-me e parei umas 3 vezes, assim era impossível, por mais que tentasse acabava sempre a engolir água, decidi não continuar a nadar a direito contra as ondas e fazer um caminho na diagonal, direto para o fim!
Desta vez fiquei com as ondas à minha direita e limitada às respirações no lado esquerdo, felizmente apesar de ser uma grande naba na água, não tenho grande dificuldade em respirar para qualquer um dos lados (embora podendo escolher prefira o direito!).
Fui avançando, e numa das vezes que olhei para garantir que ia na direção pretendida dei por mim completamente perdida, não via o João, não via o querido campismo que me marca sempre o ponto onde tenho de chegar… à minha frente à distância e tanto quanto a minha vista alcançava só havia areia e árvores, não conseguia perceber o que tinha acontecido, nem a direção a tomar.
Aqui interrompo para fazer um pequeno reparo, para quem de vocês nunca teve a experiência de nadar em águas abertas, especialmente quando não está tudo flat, o que parece evidente quando estamos na areia ou mesmo em pé dentro de água, deixa de o ser quando a tua cabeça fica ao nível da água, o teu anglo de visão fica tapado por “pequenas” ondas de uma forma que eu antes de me meter nestas aventuras nunca percebi nem achava possível.
Portanto lá estava eu, sem conseguir ver o João, sem ver o campismo e sem perceber para onde raio estava apontada, dei uma ou duas voltas sobre mim mesma, cada vez mais perdida. De repente, por pura sorte, consegui ver ao longe, entre as ondas um grande bloco cinzento! Que alegria era ali! O parque de campismo que significava segurança!
Nessa altura percebi que tinha estado a nada na direção contrária, algures no tempo tinha sido empurrada pelas ondas de tal maneira que tinha acabado a nadar para o outro lado, como é possível! Era possível sim e ainda me aconteceu mais uma vez!
Finalmente cheguei a um ponto em que estava já mais paralela com a costa, não podia continuar a desperdiçar energia na direção errada, continuava sem ver o João, mas pelo menos dali via onde queria ir, se bem que olhar para a frente muitas vezes estava fora de questão, uma vez que implicava levar com mais ondas mesmo em cheio na cara.
Mantive a respiração para o lado esquerdo, onde senti que tinha mais hipóteses de não engolir água, foquei a copa de uma árvore e fiz como objetivo manter aquela menina sempre à minha esquerda. Do ponto de vista da orientação já tinha uma referência, o problema é que aquela referência acabou me dar uma informação adicional, eu não estava a sair do mesmo sítio!
Eu sou uma nadadora fraca, cuja velocidade nem a favor da corrente impressiona ninguém, como raio ia sair dali?
Foquei-me o máximo que pude, tentei alongar o máximo os meus movimentos, tentei impor força no final da braçada, senti algum desespero por aquela linda árvore parecer continuar no mesmo sítio, mas não podia parar ou abrandar o esforço ou corria o risco de perder qualquer avanço feito.
Aos poucos e quase sem que fosse visível a arvore foi ficando para trás, eu estava a avançar! Olhei em frente o campismo estava ali mesmo na direção certa! Mais um esforço e finalmente entrei naquela porção de águas calmas resguardadas do efeito do vento e do oceano, vi o João já á minha espera, que maravilha poder outra vez nadar normal, não estar a lutar para respirar, senti que podia continuar para sempre assim, mas também senti a maior alegria quando cheguei perto do João e senti a areia debaixo dos meus pés.
Posso dizer que foram os 1.500m mais difíceis que já nadei, demorei 49 minutos, o meu gps acusou-me ainda de ter estado parada durante 5 minutos, assumo que muito por alturas em que nadei sem sair do lugar! E saí da água a sentir-me um verdadeiro animal! Caramba nem acreditava que eu, euzinha tinha conseguido fazer aquilo, tinha conseguido manter a calma e até me tinha divertido algumas vezes!!!
Que aventura mais incrível!
João – “está na altura de fazer como os profissionais e voltar a fazer os treinos em piscina”