A Viagem – Travessia do Canal

Os dias que antecederam foram de nervosismo, sempre de olhos postos no horizonte, a tentar reduzir a distância que separa o Faial do Pico… são só 8 milhas…. são só 7kms, pensava e repetia em voz alta.

No briefing os organizadores, puseram todas as cartas na mesa: todos os anos a prova consegue ser diferente, há anos em que todos os participantes conseguem chegar ao fim, mas outros, só meia dúzia! Temos 4 horas… e seja onde estiverem passado esse tempo, retiramos os nadadores da água.

Foi assim que me atirei à água no dia seguinte, com a ideia de nadar naquele azul maravilhoso durante 4 horas, aproveitar a viagem, se conseguisse chegar ao Pico seria uma grande vitória. 

Esta é uma prova organizada pelo Clube Naval da Horta, que conta com a colaboração e voluntariado dos seus associados, que põem as suas embarcações à disposição e acompanham os nadadores durante a travessia. 

O skipper que nos acompanha é essencial, porque consoante a corrente e maré, define a melhor estratégia para nos guiar. Para além disso, tinha os meus 3 filhos e marido a bordo, que davam palavras de apoio e procuravam se havia caravelas portuguesas na minha rota.

As condições atmosféricas são sempre um enigma. Nesse ano havia algum vento e ondulação, mas a agravante era a corrente com a influência da lua cheia.

Em todas as braçadas, até meio canal, continuava a ver o Monte da Guia sempre  ao meu lado. A estratégia era nadar em direção ao sul do Pico, para que a corrente, assim que começasse a encher, me ia empurrar até o porto da areia larga, onde seria a chegada.

As palavras que vinham do barco eram encorajadoras, estamos quase lá, “tens continuar nadar para sul”; “outros nadadores já estão a caminho de S. Jorge” “já conseguimos ver os carros no parque estacionamento”. 

Nadar naquele azul é uma experiência única, sentimos uma paz e harmonia, mas percebemos que somos convidados, que estamos entregues ao elemento… e assim foi!  A maré mudou, começou a encher, e eu comecei a não conseguir avançar. Do barco gritavam:- “Estás há 40 minutos exatamente na mesma posição, outros nadadores já saíram da água, o que queres fazer?”

Sair da água antes de completar as 4 horas de prova não estava em cima da mesa, ia continuar a nadar, mas tinha de mudar minha estratégia: refugiar-me nos ilhéus da Madalena, onde a corrente perdia alguma força, para conseguir alcançar a costa. 

Continuei mais 45 minutos a conquistar cada metro, sem fraquejar, nem me entregar à força da corrente que me empurrava em sentido contrário, mas o tempo limite chegou ao fim, e dos 27 participantes apenas 7 conseguiram pisar a ilha do Pico na edição de 2023.

No fim nadei 12 kms em 4 horas, e sai da água muito orgulhosa da minha prova. 

Seja qual for o desfecho, o que interessa é a Viagem, nas aprendizagens que fazemos ao longo do caminho. 

Maria Sá

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