O dia que perdi-me ao nadar em um lago

Achas que não é possível? Pois eu também achava…

No ano de 2022 resolvi fazer a minha primeira prova de 10km em águas abertas. Estava super empenhada nos treinos longos numa piscina de 25m uma vez que não arranjava tempo para treinar no mar, mesmo já a trabalhar como treinadora de águas abertas.

Alguns meses antes da prova, fui acompanhar um grupo de triatletas que iria fazer o Ironman em Espanha e a natação seria em um lago. No dia anterior, empenhada nos meus treinos para a minha prova, resolvi ir nadar no tal lago da prova e falei para o meu marido (que também fez o Ironman) que eu iria nadar por 1h para fazer 3km, mais ou menos.

E ele brincou: “Se não voltares em 1h30 chamo o barco para ir procurar-te!”

Eu ri e sai lago adentro com a minha boia na cintura, sem telemóvel.

Estava a nadar lindamente, adorando as sensações, a ver toda estrutura montada para a prova e a área de transição, pois eu estava a nadar perto da margem para não fugir muito do ambiente seguro. O relógio vibrou para marcar 1km e eu achei que já era de regressar. Continuei a nadar, porém estava vento, formando algumas ondas e até senti uma certa corrente. Havia um farol no qual eu estava a orientar-me, nado, nado, nado, o relógio vibrou de novo, 2º km e começo a pensar que não tinha passado por aquele sítio e que pelos kms nadados eu já deveria estar perto da praia onde saí. Também não tinha visto aquele poste de medir o volume de água dentro do lago e em meio a estes pensamentos deparo-me à frente de uma floresta de ervas marinhas, aquelas que vem lá do fundo e que não se vê nada no meio, sabe? Tive um mini ataque de pânico, respirei, analisei o ambiente, e voltei para trás para dar a volta e sair desta floresta. 

Deu certo, mas continuei sem saber onde estava. Eu via a estrada do outro lado do lago, mas não via o raio do ponto onde eu iniciei. Sem querer arriscar atravessar o lago para o outro lado e ainda ter de apanhar mais dessas ervas, vi mais à frente também a estrada e uma mini praia. Era para lá mesmo. Nado, nado nado e sim mais daquelas ervas e pensei comigo, “tu és forte e nadas bem, pode passar por estas plantas e já já estás na praia”, esqueci que aquelas ervas grudam no fato e quanto mais a pessoa tenta se mexer, mas elas se agarram… segundo mini ataque, dei os braços e cheguei a ficar cansada, senti eles mais pesados mas pensei que não poderia desistir, eu não via ninguém, só carros a passar, mas a praia estava mesmo logo ali, diria que há uns 300 metros. Acalmei, voltei a dar os braços e passei pelas ervas, em poucos minutos estava na praia que era só de pedras… UFA! Olhei para o relógio, cerca de 1h, um pouco mais de 3km (ou seja já tinha vibrado para o 3km mas eu nem reparei), com as pernas ainda meio bambas até fiquei contente com o “treino”, mas eu só pensava na frase… “Se não voltares em 1h30 chamo o barco para ir procurar-te!”.

Encontrei um casal no início do trilho, quase onde saí da água e perguntei pela praia que seria a partida do Ironman, porque nem o nome dos lugares eu sabia. Eles muito simpáticos disseram: – “é só seguir a trilha, são cerca de 1,5km”. E eu pensei, TOP, assim eu chego antes das tais 1h30. No calor, com o fato isotérmico pela cintura, bóia na mão e descalça, andei, andei, andei, no relógio já dizia 2km e nada de um movimento qualquer normal para um dia de pré-prova. Comecei a correr para ver se ganhava tempo, descalça pelos trilhos, 3km. Continuei correndo e depois de mais 1km começo a ver atletas e bicicletas, movimento e… a praia em que eu comecei a nadar, cerca de 1h35m antes e o meu marido sentadinho no mesmo lugar, mas já a olhar lago adentro quando dei-lhe um toque no ombro por trás. Ele assustou e levantou e eu aliviada, sentei.

Depois de uns minutos consegui contar todo o desenrolar daqueles 3.256m a nadar e 4.24m a caminhar/correr e até achei graça, mas foi um susto daqueles. E nisso, uma lição aprendida, nunca sair para nadar, seja lá para onde for, sem levar o telefone. Pode parecer impossível perder-se em um lago, mas acontece.

Bibiana Farias

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