




A temporada tinha chegado ao momento mais aguardado: a prova dos 10 km. Era o grande objetivo do ano, o culminar de meses de preparação, não só para mim, mas também para muitos dos que estavam presentes. No entanto, o nevoeiro não deu tréguas e a prova acabou por ser cancelada. A desilusão foi enorme. Ainda sentia a tristeza e a frustração de não ter conseguido concretizar esse desafio, mas decidi focar-me na prova dos 5 km, agendada para o dia seguinte.
A incerteza, no entanto, continuava a pairar. Acordei com nevoeiro, e, ao chegar à praia, uma névoa persistia. Ainda assim, estava otimista de que a prova iria acontecer. Após uma época repleta de competições e já com uma prova de 5 km no rio no currículo, estava pronta para dar o meu melhor. O meu objetivo era alcançar um bom tempo, mas também desfrutar ao máximo, sobretudo por ser uma das últimas provas do ano.
Ao fazer o check-in da prova, víamos o nevoeiro ao longe, mas as boias de sinalização ainda estavam visíveis, o que reforçou o meu otimismo. Houve um pequeno atraso na partida, mas nada fora do habitual, e o alívio era palpável entre todos os presentes: a prova ia mesmo realizar-se!
A partida foi feita separadamente por gênero, com os homens a largarem dois minutos antes. Este formato é o meu favorito, porque, embora não consiga acompanhar as nadadoras mais rápidas, ter nadadores para ultrapassar ao longo da prova dá-me motivação e energia extra.
Assim que foi dada a partida, senti-me muito bem (toda a alimentação e hidratação feita nos últimos dias para os 10 km estavam a dar resultados). Tentei ao máximo nadar na direção da primeira boia, seguindo uma diagonal, porque a corrente estava do meu lado direito (maré a vazar). Queria evitar começar mal e, naquele momento, estava entre as nadadoras mais à esquerda. Não estava sozinha, pois havia outras com a mesma estratégia.
Após a viragem na primeira boia, deixei de me preocupar com as correntes. As nadadoras começaram a se dispersar e tentei seguir uma delas, mas percebi que ela era demasiado forte. Então, mantive o meu próprio ritmo. Pouco tempo depois, comecei a alcançar os nadadores mais lentos, que tinham partido dois minutos antes. Essa era toda a motivação de que precisava para manter um ritmo alto — até que comecei a ouvir apitos.
Levantei a cabeça e percebi que o nevoeiro estava a adensar-se à minha volta. Foi então que ouvi um nadador conhecido gritar: “Joana, está cancelado!”. Não quis acreditar. A desilusão e a tristeza foram os meus primeiros sentimentos, pois estava a sentir-me bem e feliz a nadar. Dei mais algumas braçadas, porque ainda via pessoas a continuar, mas o nevoeiro tornou-se ainda mais denso, e o som dos apitos fez toda a gente parar.
A organização pediu que os nadadores se agrupassem e começou a colocá-los em barcos, mas não havia espaço para todos. Decidi imediatamente ficar na água, dando prioridade aos nadadores com mais dificuldades, e sair apenas quando houvesse espaço para todos nos barcos.
Enquanto aguardávamos mais apoio, combinámos, entre os que ficaram na água, nadar num ritmo lento para aquecer, acompanhados pelos barcos e motas de água que já estavam cheios de nadadores. Nunca me senti em perigo, nem senti que os outros estivessem em perigo. O nevoeiro estava muito denso — ao ponto de não conseguirmos identificar a costa, exceto, ocasionalmente, pelo som do comboio a passar —que até os barcos e motas de água, sem GPS, estavam tão limitados quanto nós.
Após alguns minutos, chegou a polícia marítima, juntamente com mais barcos de apoio, para resgatar os restantes nadadores. Quando subi para um dos barcos, iniciámos a viagem de regresso à meta. Apesar do que tinha acontecido, todos os nadadores estavam bem-dispostos, entre piadas e sorrisos. A viagem foi tranquila, e havia confiança de que todos tinham sido resgatados, algo que rapidamente foi confirmado.
Apesar do desfecho inesperado, este episódio destacou a força da comunidade das águas abertas. Foi um momento que sublinhou a importância do trabalho em equipa, da segurança e do apoio mútuo. Embora a prova não tenha chegado ao fim, ficou claro que a nossa paixão pela natação é maior do que qualquer obstáculo, até mesmo um nevoeiro implacável.
Águas Abertas tem desafios extra, muita coisa está envolvida. Mas é isso que torna isto tudo mais fascinante, requer trabalhar muitas competências para além de saber nadar, incluindo o imprevisto. Ano que vem é regressar, já recebemos um email a confirmar a nossa inscrição 😍🙌
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